sábado, 4 de maio de 2013

Beija eu...

Se o beijo não existisse, estaria nessa triste assertiva a prova fatal de que a espécie Homo sapiens não era dotada de inteligência.



Dentre os muitos momentos históricos que gostaria de ter presenciado, um deles é o primeiro beijo. Não sabendo dos prazeres físicos e mentais óbvios que esse ato pode desencadear, resta-me imaginar que, como muitas outras grandiosas invenções humanas, o beijo nasceu por acaso.



O beijo traz em si um simbolismo muito forte: ao unirem os lábios, as pessoas se provam, se comungam, partilham a si mesmas; naquele instante, são um. A boca é um orifício de entrada; quem dá acesso a ela, expõe seu interior, sua intimidade. Embora o beijo seja quase tão banalizado atualmente como a palavra amor, é impossível abrir mão dele; enquanto podemos expressar uma palavra profunda como essa usando outros significantes, o que pode substituir um beijo?!



Embora poucas coisas se comparem ao êxtase de se perder dentro da boca do seu amente, fazer isso sem recorrer aos outros sentidos soa tão incompleto quanto superficial, até falso. Aliás, o grande trunfo do beijo é não ser apenas um beijo; trata-se de perceber e receber o outro de várias formas ao mesmo tempo. Cheirar, olhar, tocar, ouvir, tudo isso também forma os pilares de um beijo.



A fome é o melhor tempero, dizem por aí. Penso que, enquanto se tiver fome de beijar, o relacionamento estará seguro.

domingo, 3 de março de 2013

Sobre ver e existir


O prazer em se fazer palavras-cruzadas está muito além de se testar o conhecimento de temas variados; com elas, constatamos como é bom saber nomear objetos, pessoas, lugares, sentimentos... Afinal, é disto que uma boa comunicação verbal se trata: a expressão compreensível de nós mesmos.



Poucas coisas são tão frustrantes quanto não se conseguir expressar em palavras ideias e emoções. Já comentei com meu namorado, em mais de uma ocasião, sobre minha quase revolta por ter de resumir esse sentimento tão profundo, complexo e lindo que compartilhamos numa palavra que tanta gente usa sem querer dizer nada. Fazer o quê? As palavras se desgastam com o tempo, e algumas chegam a ficar prostituídas. Pobre amor...
Enfim, ave, palavras, esses símbolos que abarcam os significados!
Sou daquelas pessoas capazes de diluir uma frase em páginas, fazendo conexões entre uma ideia e outra como os galos tecem o amanhecer com seus cantos. Porém, gosto de deparar com palavras, frases que encerram ideias com as quais posso matutar horas e horas. Por exemplo, fiquei muito bem impressionada quando, em meio às tantas surpresas agradáveis que o filme Avatar me proporcionou, ouvi a expressão "I see you".



Ver é uma capacidade evolutivamente adquirida, uma importante ferramenta de interação com o ambiente. Por meio da visão, podemos apreender cores, deduzir texturas e gostos, perceber intenções e graus de receptividade. Mas é muito mais do que isso. Como diz Exupéry, "o essencial é invisível aos olhos". No presente contexto, peço permissão para acrescentar um adjunto, "aos olhos..." estranhos. Sim, porque, graças a Deus, não se pode enxergar o cerne de alguém simplesmente lhe direcionando o olhar. É preciso compartilhar experiências, dialogar, perceber reações, captar ideias e ideais, tornar-se íntimo do outro para que, finalmente, se possa afirmar que o conhece e que, portanto, o vê.
Existe um cumprimento usado no sul da África, Sawabona, que quer dizer "eu te respeito, eu te valorizo, você é importante pra mim". Em resposta, as pessoas dizem: Shikoba, que significa "então eu existo pra você". Ah, como seria bom que mais pessoas de fato existissem...
Li certa vez sobre a teoria do "mais amor", do psiquiatra Flávio Gikovate. Segundo defende, o mundo atual precisa se adaptar a uma nova forma de amor, em que as partes não são metades de um todo que se completam, mas sim dois inteiros que se somam, uma parceria. E eu senti aquela satisfação por pensar da mesma maneira!... 
Numa das cartas de amor que escrevi (Me defenda, Álvaro: "Só as criaturas que nunca escreveram cartas de amor é que são ridículas"!), lembro-me de ter mencionado sobre como discordava da ideia de que uma pessoa tem desejo de se unir a outra por querer preencher lacunas. Isso é algo que se faz só; todos somos um quebra-cabeça sem fim, e cada um é a única pessoa capaz de encaixar cada pecinha, com cada pequena escolha que faz no dia-a-dia. Chamei essa maneira tradicional de se encarar a relação amorosa de "chave-fechadura"; alguns podem pensar que é clichê, mas me refiro aqui a um modelo de reação enzimática em que um substrato se acopla a uma enzima, num encaixe perfeito. Aí, também para ilustrar a minha ideia, usei o outro modelo, o do ajuste induzido, que funciona da seguinte maneira: quando da proximidade do substrato, a enzima adapta seu sítio de ligação para que haja o encaixe. Para mim, este modelo faz muito mais sentido, pois evidencia uma necessidade básica em qualquer relacionamento: adaptação. Não digo adaptação no sentido de alterar sua personalidade e se anular para satisfazer o objeto de desejo, mas de manter sua individualidade, desfrutar das semelhanças, respeitar as diferenças, dialogar e ceder em benefício da sociedade. Ceder é bem difícil; pessoas orgulhosas como eu sabem que é. Por isso, é importante que valha a pena, que seja pela união com alguém que faça aflorar de você o que há de melhor.
Li uma vez que, quando uma ideia penetra alguém, ela desorganiza o que estava lá previamente para depois construir algo melhorado. Acho que o mesmo acontece quando uma pessoa importante entra em nossa vida. Junto com ela vêm novos (pré)conceitos, paradigmas, costumes e novas experiências. Isso pode te desorganizar mais do que os ciclos menstruais, mas compensa se essa pessoa te faz existir.

sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

Moda

Pode falar, Houaiss:
"Moda: s.f. conjunto de opiniões, gostos e apreciações críticas, assim como modos de agir, viver e sentir coletivos, aceitos por determinado grupo humano num dado momento histórico; conjunto das principais tendências ditadas pelos profissionais que trabalham no ramo da moda (...)"
Hoje estava vendo tevê e deparei com trechos de dois filmes peculiares: Lincoln - O caçador de vampiros e João e Maria - Caçadores de bruxas. Espero que essa onda de filmes e livros explorando temas como zumbis, vampiros e bruxas passe logo. Não que não tenha apreciado ler Harry Potter e a saga Crepúsculo, mas seria bom se eles soubessem a hora de parar e oferecer assuntos novos ao invés de venderem mais do mesmo. Mas, se as vendas continuam, é porque há quem não enjoou ainda.
Enfim, o certo é que as preferências das massas em geral não me agradam. Primeiro, confesso que, por birra, não faço algo só porque outros estão a fazer ou a pedir que eu o faça. Quando minhas irmãs, com o resto do mundo, estavam vivenciando o auge da febre J. K. Rowling, eu não tinha a mínima curiosidade de passar meus olhos para além das capas que elas me mostravam contentes após comprar ou ganhar (uma delas chegou, inclusive, a adquirir o último volume na versão em inglês, tamanha era sua ansiedade). Só algum tempo depois, de férias, enquanto estava arrumando nosso quarto, vi aqueles volumes empoeirados; li muito rápido porque, de fato, é uma ótima história contada de forma incrivelmente descritiva e fluida. Segundo, gosto de desfrutar de uma ilusória exclusividade quanto ao que tenho e faço. Gosto de descobrir lugares interessantes sem que ninguém me tenha falado deles; gosto de assistir a documentários sobre assuntos incomuns, desconhecidos por mim; gosto de usar roupas atemporais, de preferência, anti-moda.
Quanto às tendências de moda, destaco, no segundo significado do verbete, a palavra "ditadas". Tenho forte aversão pelo modo como me sinto, feito gado humano, compelida a usar o que "está na moda". Quando entro numa loja popular, quase tudo o que me rodeia é uma versão barata do que astros e estrelas nacionais e internacionais estão usando sob orientação dos grandes estilistas. Se as vendedoras que me atendem soubessem o quanto detesto esse modismo alienante, jamais diriam: "esta é a peça que mais sai" ou "tá todo mundo usando!". Gosto do belo e não preciso de ninguém me dizendo o que é e o que não é belo. Claro que preciso que alguém produza as roupas, pois só sei usar fio e agulha prá suturar, mas isso não significa que não posso ter meu estilo.
Cansada de ver tantas aberrações nas passarelas e nas ruas, decidi um dia selecionar peças que me transmitissem o belo, o equilíbrio, a discrição. Seguem alguns cliques:




sábado, 12 de janeiro de 2013

Comida

Em feiras, supermercados e praças de alimentação, vemos alimentos nos mais diversos estágios de beneficiamento. E comê-los soa bem natural, apesar de, na grande maioria das vezes, não conhecermos  suas origens (por que mãos passou? Como se originou, foi cultivado ou criado e manipulado? Onde nasceu, desenvolveu-se e morreu?). Interessante como a relação homem-alimento passou de algo tão íntimo para banal.
Para grande parte das massas, o alimento tornou-se nada mais do que um produto, com centros produtores, transporte e centros consumidores. Para a crescente classe ecologicamente correta, há questões  muito mais sérias por trás: desperdício, fome, OGMs, agrotóxicos e reforma agrária. Para as ciências da saúde, estão crescendo conceitos como dieta parenteral, nutracêuticos e dieta ortomolecular.
Comida significa tanto para todo ser vivo. O input de nutrientes variados garante a sobrevivência, o bom desempenho da funções orgânicas e é pré-requisito mínimo para a transmissão de um pool genético. Sabe-se, no entanto, que há alimentos nocivos e benignos; o paladar foi, assim, imprescindível para a evolução das espécies. Para algumas, algo mais do que genes foi passado adiante; a cultura foi um mecanismo com o qual aos jovens foram "herdadas" experiências dos mais velhos, o que permitiu, com o passar de gerações, a formação de um pool de conhecimentos. Isso permitiu uma melhor adaptação e depois o controle do meio. O domínio de ferramentas e técnicas para cultivo e pastoreio, ou seja, o manejo de alimentos de fato ou potenciais, permitiu ao homem fixar-se e agrupar-se de modo mais semelhante ao familiar. Assim, logo alimentos estariam inseridos em rituais intrínsecos a grupos das mais diversas localidades, contribuindo para o estabelecimento da identidade dos povos.
Às vezes considero essas questões ao deparar com os alimentos do dia-a-dia. Na maioria do tempo, porém, a comida para mim está ligada a lembranças. Pudera, quantas refeições já fiz nos últimos quase 26 anos?? Acho que a primeira de que me lembro é de um mingal fluido, morno e doce que mamãe me dava de mamadeira, eu ainda entre dormindo e quase acordada. Era bom começar o dia com aquela marcante mistura de gosto e temperatura em minha boca. Mais tarde, passei a apreciar frutas com mel ou com açúcar: banana, laranja, abacate. Ao mesmo tempo, massas cruas de bolo, figos em calda, azeitonas e chambinho sempre foram bem-vindos.
Ainda vivos em minha memória estão os dias em que eu e minhas irmãs acompanhávamos a mamãe a uma vizinha que criava e abatia galinhas; não recordo se sentia alguma coisa ao ver as coitadas tendo o pescoço quebrado e as penas arrancadas do couro, mas achava legal sentir, já na cozinha, a textura dos órgãos. Inclusive, num desses dias, vi um osso com uma parte esverdeada no meio; "é mastruço, minha filha; quando a gente criava galinha e ela quebrava uma pata, seu avô enfaixava um pano melado com o extrato dessa folha e, dentro de poucas semanas, a galinha tava boazinha". Tão bom; a cozinha como uma sala-de-estar, onde eram ouvidas dicas, notícias do dia, confidências, tudo em meio a cheiros e sabores.
Em cima do freezer, ficava a iogurteira, com uma redoma de vidro transparente que abrigava 6 potinhos de vidro com tampa amarelada. Quando a mamãe comprava iogurte natural prá gente, sempre dizia: "Deixem a semente pro iogurte!". A semente era um restinho de iogurte, que servia de matéria-prima para o iogurte caseiro. Confesso que nunca acompanhei o modus operandi, de modo que não tenho como descrever, mas  gostava de ver os potinhos cheios a girar, quentinhos, que logo, logo iria abrir, colocar uma ou duas colheres de açúcar e mastigar sem querer engolir, de tão bom!



Depois acho que ela quebrou; desde então, vivia experimentando novos iogurtes naturais nas prateleiras, procurando o gosto do que a mamãe fazia tão carinhosamente, sem sucesso. Até que, na semana passada, olhei para um iogurte diferente, "Grego". Provei e foi efeito madeleine total; para quem não conhece, é o mesmo efeito ratatouille:



Ah, enfim, há muitas coisas gostosas, lindas e importantes por trás das comidas.

sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

Contradições

Nos tempos de escola, aprendi um jogo de palavras com uma amiga: "Por que 'tudo junto' se escreve separado, e 'separado' se escreve tudo junto?" Doce tempo esse, em que o pensamento era ainda uma ferramenta secundária, e o boletim era uma das minhas maiores preocupações.
Como um brotinho de feijão, dúvidas e mais dúvidas sobre o passado, o presente e o futuro foram crescendo em mim, e os pensamentos, então, se acumularam como uma bola de neve, já que somos um contínuo resolver de questões, escolher de caminhos, um transformar de nós mesmos, como expressou muito bem alguém que afirmou que um homem não se molha duas vezes no mesmo rio.



Merlin, no desenho "A espada era a Lei", fala que prá cada bem existe um mal, pro que é doce tem o sal; sim e não; céu e mar; isso faz o mundo andar. Claro que eu não pensava sobre o significado dessa frase musicada, apenas cantava. Hoje essa sabedoria simples, que me lembra a sabedoria deísta de comunidades nativas, chama minha atenção, pois estou certa de que nosso contato com os opostos, no nosso dia-a-dia, nos estimula a comparar, aprovar ou reprovar, aprender, escolher, viver.
No início na vida, o ser humano é, basicamente, sensorial; tudo o que está ao redor de um bebê é provável, no sentido de experienciável pelos seus sentidos, ávidos por informações, que permitirão associações, que estimularão ações, que guiarão o comportamento, que moldarão a personalidade. Por que será que esse exercício tão simples, mas tão útil, é abandonado por tantos? Provar a mudança de matizes durante o amanhecer. Provar uma melodia que destrua suas represas e faça chorar. Provar a fragrância suave de uma fruta. Provar a maciez do cetim. Provar o travor do tamarindo.
No simples está a verdade; no complexo, a polêmica. Talvez muitos invistam mais seus pensamentos no complexo, em busca da verdade ou de vantagens, cansados do lugar-comum de que, talvez, sequer desfrutaram.
Tão importante quanto experimentar é experimentar de novo. A expressão de novo vem do latim e significa "sob nova forma", "de nova maneira". Volto à citação sobre o homem e o rio, lembrando que, quando criança, li "O pequeno príncipe"; achei fabuloso um menino se criar num planeta minúsculo sem os pais e voar por aí puxado por asteroides; não sabia como ele suportava, e ainda regava, aquela flor chata. E só. Hoje tenho certeza de que obras como "O pequeno príncipe", "Alice no país das maravilhas" e "O menino do dedo verde", por exemplo, definitivamente, não deveriam fazer parte da Literatura Infantil, pois é necessário, para aproveitá-las, trazer uma bagagem filosófica e sentimental que é quase impossível que uma criança tenha.
A contradição é o ponto de partida e o processo de qualquer vivência: vida e morte, fome e saciedade, amor e ódio, altruísmo e egoísmo, riqueza e pobreza... Os opostos são infinitos porque, até agora, a humanidade é infinita, já que não me atrevo a estimar quantas vidas, quantas experiências, percepções e escolhas foram feitas desde que surgiu o pensamento.
Até um dia desses, encarei a contradição como motivo de angústia para o ser humano, apesar da incontestável pedagogia que ela encerra. De repente, estou vivenciando uma que me conforta imensamente: sou toda alegria e tristeza na saudade.

quinta-feira, 20 de setembro de 2012

José Goldemberg

Quem?
É um físico nuclear BRASILEIRO, professor da USP, laureado em 2008 pela Asahi Glass Foundation, do Japão, com o Prêmio Planeta Azul, com direito a 50 milhões de ienes (o equivalente a R$ 800 mil), por “ter dado grandes contribuições na formulação e implementação de diversas políticas associadas a melhoras no uso e na conservação de energia”, com destaque para um conceito formulado por ele segundo o qual, para se desenvolver, países pobres não precisam repetir paradigmas tecnológicos trilhados no passado pelos ricos.


No programa Roda Viva (TV Cultura), um ótimo debate sobre a matriz energética brasileira e aos seus impactos no meio ambiente. Vale a pena conferir:


segunda-feira, 10 de setembro de 2012

Cleópatra





Essa é a Cleópatra.
Na verdade, antes era apenas um gatinho recém-nascido que estava fazendo zoada no quintal do meu namorado.


Esse é o meu namorado.
Na verdade, antes era apenas um menino de quem eu não gostava nem um pouco...

Pois é, ainda bem que as coisas mudam!

Voltando ao gatinho no quintal, o Pedro e o irmão dele pegaram o bichano, e o Pedro não só o acolheu no seu quarto, como também fez milhares de pesquisas na internet para coletar informações diversas sobre o mundo felino. Descobriu que havia uma forma de "imitar" o leite de gato:
-1 e 1/2 copo de leite de caixa
-1 gema de ovo
-2 colheres de sobremesa de creme de leite
-1 colher de café de açúcar
Claro que o gatinho só aceitava o leite reconstituído se fosse bem morninho!
Outra coisa que ele descobriu, para seu desprazer, é que os felinos quando filhotinhos só realizam suas funções eliminatórias se a mãe (ou substituto!) estimular a região. Sim, é exatamente isso o que você está pensando... Tive impagáveis muitos momentos de risada vendo a cena do Pedro fazendo a pobre gata rebolar e miar atritando algodão nas áreas baixas da bichana.
Momento ciência: a explicação evolutiva para o meu namorado - e eu também - ter passado por esses momentos humilhantes é que, se os filhotes de felinos selvagens (que têm forte parentesco com os domésticos) defecassem ou urinassem conforme o comando do organismo, poderiam ser mais facilmente farejados por predadores. Assim, aqueles que "perderam" a capacidade de fazer as necessidades fisiológicas voluntariamente foram selecionados! Detalhe insólito: para não deixarem rastro, as mães, após lamberem o períneo de seus filhotes, comem (an-ran) as excretas... Mãe é mãe, né?!
Agora falando de coisas agradáveis, tem sido emocionante acompanhar o desenvolvimento dessa gatinha: no começo, era só input, output (sob estimulação, claro) e sono. Era só abrir a caixa de sapato forradinha com pano que o Pedro providenciou, pronto - miadeira no meio do mundo! Depois da mamadeira, passava um tempinho, dito e feito - mais chororô; aí a gente, já sabendo o que nos esperava, já molhava o algodão na água (morna também, faz favor). Ah, muitas vezes, do nada - miadeira louca! E quando se sujava toda de coisas sólidas e líquidas? Sim, mais miado de abalar os tímpanos.
Ao longo de um mês, acompanhamos as mudanças de ciclo circadiano, postura, tamanho, comportamento e hábitos alimentares. O jeitão de andar e ensaiar corridas ainda é muito engraçado, pois as patas traseiras quase que atropelam as dianteiras;os miados, para o regozijo otológico de todos, ficaram ocasionais e toleráveis; os reflexos estão ficando mais apurados; os comportamentos instintivos, como mexer o rabo, lamber o corpo e coçar-se com as patas traseiras, estão progredindo a cada semana; ela já está bebendo leite no pires e se preparando prá enfrentar a ração; e, o mais importante de todos, aposentamos o algodão!
Ah, uma curiosidade fofa: ela ronrona feito um motor, e independentemente do seu grau de satisfação com o mundo.


 Se antes nossas preocupações eram relacionadas à extrema dependência da Cleópatra,  agora elas se direcionam para o outro extremo, a autonomia. Não que não haja espaço prá ela, mas é que a casa tem um morador muito territorialista, com personalidade prá dar e vender: o Faraó, um gato que merecia uma postagem só dele, que depois vou providenciar. Enfim, ele tem uns sete anos, se não me engano, e até agora os encontros provocados com a pequena Cleo não têm sido lá muito amistosos.
Encerro aqui transcrevendo Arthur Schopenhauer:

"A compaixão pelos animais
está intimamente ligada a bondade de caráter,
e quem é cruel com os animais
não pode ser um bom homem
."

Pedro, tu é gente boa! ;)